relógio embriagado

Amor em duas vias
Assassinadas
Esquecidas
Papel amarelado de medo
Perdido no pó da gaveta
E o jantar falho de vinho?
Na sexta-feira?
Depois do expediente
Entorpecente a língua fala
Quando deveria calar
Descobri por acaso
Tenho fraco por fracassos
Sou meu próprio anti-herói
Como se o dia ofuscasse janelas, como se deuses andassem nas ruas, como se o céu abrisse a boca em enormes clareiras, como se fosse chuva e sol, como se animais noturnos rompessem segredos, como se o medo e a devoção dos santos nos atingissem, como se o estrondo de suas mãos em minhas mãos fossem certezas, como se as ilhas solitárias do pacífico fossem nossas, invadidas e penetradas casas, como se a trajetória da queda rumo ao abismo forjasse sentido, como se não existisse você, como se não existisse eu, como se não existisse mundo nem poesia que transtorna a vida dos sentimentos escondidos dentro da voz, descobri que não somos iguais. Soldados cobertos de armais mortais. Sou traça que devora suas peças e você é a placa que sinaliza proibição. Guardo minha rebeldia quando ainda arde o dia e sente fome minha rítmica ausência de alegria. Descobri que envelheci. Sem aviso prévio, perdi a fé na velha história. Agora vivo de obrigar que se consertem as cordas e engrenagens do relógio embriagado que me pulsa e regenera. Por obrigação seguem nova ordem as linhas imaginárias da palma das mãos.
Racional é o júbilo.
Passional é a vida.
Finjo ser estátua rubra
Enquanto rugem os aviões.
Comentários
mais temporada de patos
Abraço.