Mudei. Vejo tudo como é. Nada invento. Roupas coloridas separadas das roupas pretas e brancas que, de fato, também são coloridas. Nada tem ausência de cor. Amor é amor. Não transborda um centímetro. Filho é filho. Minha paz, perdição e equilíbrio.
Bonito o que vi. Ao dar banho no cachorro, ele ouvia música clássica. Perguntei o que era. Ele, sem pensar duas vezes, sentiu-se envaidecido. Pela primeira vez em meus silêncios, demonstrei que me importava. Venci. Sempre que saímos da zona de conforto da indiferença e do egoísmo, vencemos. Calculei isso ao assistir filme reprisado de falas que já havia decorado. Quanto menos me importo comigo, mais me importo comigo.
É no altruísmo que se esconde o ego fingido.
Abri a porta e descobri, em pleno dia, um casulo no alto da varanda. Não me feriu ver o casulo na parede. Mas o que pensariam as visitas se chegassem a minha casa e vissem que crio casulos? Por ordem dos outros, tive que destruir a casa de marimbondos. Havia apenas um inseto. Encolhido e embrionado. Com todo cuidado, e com a pá, deitei a pequena criatura no canteiro. Ainda encolhida e curvada, arrastou-se para um canto escuro sob as folhas e escondeu-se. Limpei o que restou do casulo, senti revolta por tê-lo destruído, sentei sob a grande árvore, peguei meus fones de ouvido e pensei em meus pequenos crimes ambientais e em minhas histórias mal criadas. Enquanto isso, ainda ouvia música clássica o homem vaidoso que abre janelas com o mesmo vigor com o qual me esquivo. Como disse, vejo tudo como é. Minha realidade é alvo do eterno fictício.
5 comentários:
A tua realidade tem cores, Letícia. :)
Belíssimo adorei a parte de ser maior que a indiferença, linda!
Passei para deixar um abraço.
Beijos, Luiza.
Beijos, Luis. E me avise quando receber o livro.
Sim, Letícia.
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