o perdão

Raskolnikoff, personagem do famoso "Crime e Castigo" de Dostoiévski, apresenta, em um trecho da história, uma frase que trago sempre comigo, a qual transformei em uma das minhas filosofias de vida: "Sou um homem porque erro" — diz o jovem pusilânime em um dos muitos fluxos de consciência presentes na obra. Esta é a melhor definição que se pode ter de um homem: é o erro que nos faz humanos.
Por conta dessa natureza falível, deveríamos ter o perdão também como uma característica inerente à nossa condição mortal. Se erramos muito, deveríamos também perdoar em demasia.
Perdi a conta de quantas vezes errei e de quantas vezes tive que me perdoar por cometer o mesmo erro. Ao reconhecer meus próprios erros e aceitá-los como parte de mim, fui capaz de perceber que todos aqueles a quem já julguei incorretos não mereciam minha condenação, mas minha compaixão e, acima de tudo, meu perdão.
Muitas vezes temos o ímpeto de olhar para o nosso semelhante e massacrá-lo diante dos seus defeitos e dos desvios da conduta que achamos ideal. Quando olhamos para nós mesmos e temos a dimensão de que à nossa frente e à nossa volta há alguém que tem suas razões, a perspectiva pode ser transformada.
Dizem que é muito fácil julgar e condenar os outros. Acredito que não. Na verdade, sempre que condenamos o outro, agredimos a nós mesmos. No momento de recriminar, esquecemos que ninguém melhor do que cada um sabe o peso de viver sua própria vida e de conviver com suas falhas.
Antes de julgar, coloquemo-nos no lugar do próximo e, como disse uma de minhas sábias professoras, "aprendamos a compreender o compreender do outro". É difícil, mas os anos podem nos ajudar a sermos homens porque erramos.
Image by MagdaMontemor
Comentários
Belo texto!
Abraço
Elis.
O meu pedido de perdão a Juljan, Letícia e a qualquer um a quem eu tenha ofendido.
Feliz Páscoa! ;)
E muito bom teu comment, Zélia. E você nunca me ofendeu. Não que eu me lembre.
Em todo caso, sinta-se perdoada. =)
Beijo e afeto
Carpe Diem!!
Assino embaixo. Erramos demais (ainda bem! Porque dizem por aí que é errando que se aprende) e perdoamos de menos. Deslizamos demais, e julgamos demais também. É o umbigo reinante, pai de todos. Ah, e adorei a frase da tua professora. É o que eu chamo de praticar o olhar empático, aquele que nos faz ver e sentir o sentimento do outro como se fosse nosso, e compreender as atitudes alheias, mesmo quando faríamos diferente.
Ótimo post, Letícia.
Beijoca pra você