abracadabra
1
Narrarei com as duas mãos, e um pé na frente e outro atrás, a bruta capacidade que possuem meus pensamentos robustos e irracionais. Me fazem acreditar em tudo. Sétima arte, escada de emergência, redução de calorias à base de manobras sexuais banais e decadentes e traduzo, à fina língua, o filosófico francês do jogo da amarelinha. Comedores de meu juízo. Televisivos e virtuais, andam sempre em pares e, quando díspares, nunca os vi desiguais.
2
Estou alegremente ouvindo Fiona Apple às três da manhã. Hora macabra, abracadabra e meus amigos todos dando risada. Bando de gente errada. Não fazem ideia de quem eu sou. Sumo sacerdote fêmea. Dotada de incríveis poderes sobrenaturais que de nada valem. Mas veja minha ambiguidade. Sirvo a tantas bocas e minha mesa está sempre escassa.
2/5
Poema.
Deitado de lado de olhos fechados
Ainda será poema.
Aquele que o escreve, porém, que não sonhe
Sempre o poema muda o rumo de alguém.
Passional 3
Ana C. era passional
Marginal
Mulher viajada.
Tomava chá das cinco
E contava sua vida em meia palavra quebrada.
Eu, coitada
Sou nada.
Se confesso, vou pro inferno
Se viajo, o trem emperra
Por isso me calo quieta
E não dou uma de poeta.
Me deito quieta e peço a Deus
Que me guarde, me ilumine, me desgoverne
E que eu sobreviva intacta
Aos descompassados atritos da pele.
Beijo de amor número 4
Um casal beija
No meio da praça e a criançada corre
O beijo de amor
Engole a cena
Um balé aquático
Língua pra cá
Te amo pra lá
E, do ônibus, contaminado e urbano
O público nem repara
Amor não tem graça
No meio do cotidiano.
Inquietos (fim)
O homem de boca fechada acha que não diz nada. Mas eu ouço a voz do homem calada através do olhar. Ele diz que incerta, embora crente de seu plano, a palavra respira cheia de sentido, boceja de modo tranquilo e se estica a espera do que será dito. Feito gato observando a vida através da janela do décimo quinto andar.
Image by Linnea Strid
Comentários
Um abraço, Let, um forte abraço e felicidade, sempre!
Leandro
Letícia! Guarda um livro seu pra mim tah, nao deixa acabar, eu quero ter a honra de comprá-lo com autógrafo e tudo.
O engodo e o ilusório parece existir em toda parte e o mais cético e racional já caiu em algum truque. Aliás mágicos sobrevivem assim e de forma espetacular, diferente dos poetas, fazem fortuna com o ilusório.
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Mas a questão que o teu texto me remete é que há um problema em acreditar cegamente em tudo. Ignorando a existência de truques, perigos e mistérios, ao final há o risco do esquecimento daquilo que se quer para si.
A magia do teu texto está no todo das partes e na mão que toca as letras.
um abraço e um carinho.
Gostei de saber um pouco mais de vc hoje, fica bem
Beijo
G